domingo, 25 de abril de 2010

Cognitio

Suprida as preliminares do motivo que ensejaram a criação do blogger. Creio que agora seja a hora de comentar do motivo da temática do mesmo. Até porque quem ver de relance o blogger, deve estar achando que o escritor que lhe fala é alguém macabro falando algo das trevas. Como diria minha mãe: “Que foto sombria é essa menino!?”

Bom, se bem me recordo, me deparei com o personagem Tirésias pela primeira vez quando li o livro “Édipo Rei” (De fato, um ótimo livro, principalmente por tratar do tema “destino” – deve ser tratado futuramente). Não obstante a uma participação no enredo um pouco discreta (embora crucial), achei interessante um personagem dotado de tamanha sabedoria, em parte eu diria pela sua visão prognóstica, outra parte por ter vivido tanto tempo.

Na mitologia, reza várias lendas acerca da perda da visão de Tirésias, uma diz que isso foi um castigo por ter ele revelado aos mortais os segredos do Olimpo, outra por ter opinado em uma discussão entre Zeus e Hera (por isso que eu sempre digo: “Apenas sorria e acene”), outra por ter visto Atena se banhando numa fonte. Enfim, não importa qual lenda seja, o ponto central é o mesmo: O preço do conhecimento.

Ora, o preço do conhecimento é alto, a capacidade de antever o dano que você próprio causou é mais uma maldição do que um dom. Você sofre no mínimo três vezes mais do que uma pessoal normal.

Ah, por vezes já aconteceu de, estando eu em certa situação, cometer um erro, falar algo inapropriadamente, tomar por errada atitude, e percebendo na hora o equívoco, já começar a me lastimar pela conduta, e essa é o primeiro sofrimento, saber na hora o erro cometido.

Pós você percebe as conseqüências do devido ato, de como vai ecoar, o que acontecerá, o que você perdeu ou deixou de ganhar por causa de alguns segundos de erro. O segundo sofrimento é esse, sofrer já antemão pelas conseqüências porvir.

E o terceiro sofrimento, é quando necessariamente as conseqüências ocorrem, embora teoricamente você já esteja preparado, isso não minimiza a dor.

Uma mera pessoa leiga, não sofreria percebendo o erro que cometera, aliás, ela nem perceberia, e só com um pouco de azar é que perceberá quando aparece as conseqüências do seu ato. Como diria o personagem Cypher do filme Matrix: “A ignorância é uma benção”

Há tantas coisas, que eu preferiria de toda alma, nunca ter percebido, nunca ter deduzido, queria apenas se manter na ignorância.

E já se lembrando de frases, há muito tempo, na 5º série, lembro de uma frase que era tema do professor de Geografia (J.P.), e só nos dias hodiernos é que eu vim entender a real valia da frase... in verbis: “Quem me dera nascer burro, pelo menos não sofria tanto” ... Ê saudade dessa época em que eu podia regozijar da minha própria ignorância.

E para o toque final, ano passado eu estive no casamento do gerente da CIV, o Sr R. M., neste casamento sentei a mesa com um cidadão, o pai da noiva, nos seus 60 e poucos anos, um dos mais renomados neurologistas (salvo engano) do Brasil, enfim, no final eu descobri que posso dizer com toda convicção que ele é a pessoa mais inteligente que eu já conversei na vida. Começamos com assuntos ordinários, aos poucos entramos em assuntos mais específicos e intelectuais, mas não importava o assunto que eu abordasse, ele dominava. Falamos de política, comércio, filosofia, psicologia, direito, e ele sempre me trazia a luz conhecimentos que eu desconhecia. Sem sombra de dúvida, era a pessoa mais inteligente que eu já havia conversado. No final, acabamos entrando no assunto religião. Algo que, após anos com um curso intensivo de religiosidade com minha mãe, achava dominar. – (minha mãe é daquelas que ver um livro de título “vampiro, a máscara”, e na mesma hora joga ele na fogueira... literalmente) – Nisto ele me revelou ser Ateu. Segundo ele, o conhecimento que ele tinha não o permitia aceitar a existência de Deus. E após muito debate, em que eu tentei veementemente provar a existência de Deus, ele me trouxe as seguintes palavras:

“Meu filho, você não imagina para mim como é desesperador não conseguir acreditar em Deus. Aqui estou eu, aos meus 60 e poucos anos, já mais perto da morte do que nunca, e minha única crença é que eu vou virar pó. Ah, como eu queria ter a fé que você tem, acreditar que após a morte há qualquer outra coisa, eu queria muito ter essa sua esperança. Mas como eu lhe disse, para o conhecimento que eu tenho, eu acho impossível ou no mínimo inviável a existência de um Deus criador e controlador de tudo. No final se você estiver certo e eu errado, melhor para você que vai para o seu céu e eu para o inferno ou purgatório, entretanto, se eu estiver certo e você errado, nada mudará para mim, ambos viraremos somente pó, de nenhum jeito eu sairei no lucro. Ou seja, de qualquer maneira, é mais negócio para você continuar a acreditar em Deus.”

...

Acho que posso resumir tudo a isso: “Ao fato de como é burrice ter conhecimento” ...

No final, realmente, foi-se a época em que o conhecimento exigia de preço apenas os olhos... hoje, não só sua paz é negociada, até a alma pode entrar nessa barganha...

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